Brasil ou Brasil 

Fernando Rosa

É verdade que sofremos um golpe de Estado sob bater de panelas sem esboçar reação de gente grande por não compreender seu caráter, origem e dimensão. Muito mais frágil institucionalmente do que o Brasil, a Venezuela deu um “chega pra lá” nos golpistas, assim como fez a Turquia, recentemente. Apesar disso, as as lições apreendidas, somadas à nossa experiência histórica, apontarão o caminho para construção de uma direção para a luta, se não com as lideranças atuais, com as que virão.

Para tal, no entanto, é decisivo que o Brasil supere históricas dificuldades de atitude de suas lideranças, sejam por ingenuidade ou traição, como advertiu o jornalista e professor Nilson Lage, em artigo no blog Tijolaço. Identificar seu verdadeiro inimigo, em primeiro lugar, e também assumir-se enquanto Nação e compreender o papel das Forças Armadas no processo de construção do país são tarefas imediatas. É preciso desatar esses nós para derrotar este golpe de Estado em curso e abrir caminho para a afirmação de uma Nação madura, com inserção soberana e multilateral no mundo.

Diferente do golpe de Estado de 1964, o atual é muito mais profundo e destrutivo interna e externamente, exigindo, portanto, considerar diferenças históricas, políticas e econômicas. Em 2016, a burguesia rentista nacional literalmente enfiou seus “colegas de classe” produtivos na cadeia, do que é símbolo Marcelo Odebrecht, diretor da maior empreiteira do mundo. Em 1964, os golpistas atacaram os direitos sociais e trabalhistas, mas mantiveram uma progressiva política de desenvolvimento, que culminou com o II PND, no governo Geisel.

No “front” externo, em 1964, havia um alinhamento a uma política de “guerra fria” que, de alguma maneira, resultava em investimentos de capitais na economia nacional. Atualmente, a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas significou uma profunda derrota ao neoliberalismo global e predatório, ao qual os golpistas nativos submeteram-se econômica e ideologicamente. O mundo caminha na contramão do ideário ultrapassado dos golpistas, com afirmação cada vez maior das economias internas, dos empregos, da valorização das Nações.

O plano do sistema financeiro e da indústria bélica internacional era, a partir da vitória de Hillary Clinton, investir contra a Russia, a China e todos os seus aliados e projetos. O Brasil sempre foi um alvo central, para afastá-lo do BRICS, desde a espionagem da NSA, a captura dos agentes internos, a “primavera” de 2013 e, finalmente, o golpe judicial-parlamentar. A derrota dos Clinton e seu fantoche Barack Obama deixou os golpistas nativos à deriva, expostos às desesperadas medidas sociais, econômicas e políticas que apenas aprofundam o desastre.

O inimigo do Brasil é o sistema financeiro internacional, com suas faces públicas, ocultas ou paralelas que, para tentar sobreviver, insiste em destruir economias e inviabilizar Nações.

No entanto,  a gangue rentista internacional e nacional definiu novas regras para a disputa do poder, afirmando alto e bom som que “o Estado brasileiro é meu”, ao apropriar-se da metade do Orçamento da União, por meio meio da PEC 241/55. Assim, apenas uma volta à aliança do “ganha-ganha”, com os preços altos das “commodities”, dos governos Lula e Dilma, já não é mais remédio para a doença que se abateu sobre a economia do país. A desmoralização das instituições, por outro lado, também exige novas soluções políticas, sem o que nem mesmo as “eleições diretas” sobreviverão a um novo assalto dos rentistas no futuro.

O Brasil precisa, portanto, antes de mais nada, posicionar-se no mundo, no jogo da geopolítica mundial, ocupando o espaço que lhe é devido, por sua condição social, econômica e geográfica. Isso não é papel apenas dos políticos, mas de todos os patriotas, em especial, neste momento, das Forças Armadas, diante do ataque que ameaça destruir a integridade nacional. É urgente superar, de lado a lado, a falsa bandeira da “guerra fria” que dividiu a Nação entre civis e militares, como bem lembrou recentemente o Comandante-geral do Exército, general Villas Bôas, para fragilizar o país frente aos interesses externos.

É também necessário romper com as velhas e novas “teorias da dependência” e retomar o papel do Estado como indutor da economia, abandonado após o II PND, nos anos setenta. Na época, diante do “drama” dos economistas com o “problema da inflação”, o então presidente Geisel afirmava que “o problema número um era desenvolver o país, dar empregos, melhorar as condições de vida da população”. Nos anos setenta, o PIB brasileiro era o dobro do chinês, enquanto hoje o PIB da China é o maior do mundo, resultado da política de Estado adotada.

O inimigo do Brasil é o sistema financeiro internacional, com suas faces públicas, ocultas ou paralelas que, para tentar sobreviver, insiste em destruir economias e inviabilizar Nações. O “fim do mundo unipolar” está chegando a passos largos com a afirmação de uma nova hegemonia política e econômica a partir do BRICS, do qual o Brasil faz parte. O Brasil é uma Nação inevitável, com um amplo mercado interno, extensão territorial e variadas riquezas naturais, exigindo uma direção política que seja capaz de colocar-se à altura dessa dimensão histórica.

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4 comentários sobre “Brasil ou Brasil 

  1. Assim é. País sem pudor! Retrospectiva 2016: 12 momentos inesquecíveis em que a mídia garantiu que o impeachment salvaria o Brasil
    > https://gustavohorta.wordpress.com/2016/12/30/assim-e-pais-sem-pudor-retrospectiva-2016-12-momentos-inesqueciveis-em-que-a-midia-garantiu-que-o-impeachment-salvaria-o-brasil-blog-dos-servidores-da-previdencia-social/

    “O ano de 2016 se aproxima do fim e é importante lembrar do papel da imprensa no golpe e na subsequente draga econômica e institucional em que nos metemos.

    Cheios de amor e de esperança, querendo agradar seus patrões a todo custo, jornalistas fizeram previsões furadas e propaganda, baseados no mais puro wishful thinking e, eventualmente, canalhice.

    A ideia era vender a ideia de o golpe não era golpe e que a destituição de Dilma “ia tirar o Brasil do buraco”, tese consagrada por Eliane Cantanhêde, uma espécie de porta voz terceirizada de Temer.

    Em abril, numa entrevista a uma rádio, ela disse seguinte: “Conversei com o Michel Temer nessa semana. Ele está muito seguro e muito sereno. Fala que está pronto para assumir a responsabilidade, que é tirar o país do buraco. O Michel Temer, por ter mais gás, parece ter chances de conseguir”.

    Confira uma seleção de 12 promessas que a mídia fez e os midiotas acreditaram. …”

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  2. Na verdade erramos de novo..antes por não ter mandado embora todos os comunistas…e agora por não ter metido na cadeia todos eles ….como seria bom se fosse realmente um golpe…mas dessa vez ..seriam mandado para Coréia do Norte…e nunca mais virem de volta….

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